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Fuinha, a rasteira e a cultura do like

Por Marcos Lannes Jr., engenheiro de produção e servidor público.

Nesta semana, uma certa “brincadeira” (aspas, muitas aspas) que ganhou muita repercussão nas mídias sociais causou uma enorme preocupação entre pais, médicos e quem trabalha na área de ensino - ainda mais neste período de volta às aulas: o “desafio da rasteira”, que consiste de três pessoas posicionadas uma ao lado da outra e, num primeiro momento, as duas pessoas que estão nas pontas pulam; em seguida, a pessoa que está no meio pula, recebendo uma rasteira em ambas as pernas e caindo violentamente no chão.

A estupidez (neste caso, sem aspas) da nova moda, não sem razão, trouxe bastante preocupação, uma vez que as consequências podem ser graves, podendo ir de fraturas de ossos, lesões na coluna (causando limitações nos movimentos) e até traumatismo craniano, podendo levar à morte - como, de fato, aconteceu com uma menina de 16 anos em uma escola municipal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.

Nesta semana, uma reportagem publicada no site da revista Veja revelou o youtuber que tornou o “desafio” viral: trata-se de Robson Calabianqui - mais conhecido como “Fuinha” -, que, em 2018, chegou a ser candidato a deputado federal pelo Patriotas, recebendo pouco menos de 1.600 votos (não foi eleito). Ele reproduziu em suas redes sociais - Instagram e TikTok um vídeo (já tirado do ar, diga-se de passagem) em que ele, junto com seu irmão, resolve aplicar o “desafio da rasteira” em sua própria mãe.

Após a repercussão - extremamente negativa - da estúpida “brincadeira”, o “Fuinha” publicou, na última quarta-feira, um vídeo no YouTube (cujos comentários, hoje, estão desativados) pedindo desculpas. Em um dos momentos do vídeo, ele disse: “Parece engraçado, mas vocês sabiam que eu poderia ter perdido a minha mãe para essa brincadeira?”, e acrescentou: “Eu tô muito arrependido de ter postado esse vídeo, eu nunca imaginei que ele seria um viral dessa proporção. Era para ser só mais um meio de entretenimento na internet”.

Cabem algumas reflexões diante dos fatos, seja do “divertimento” quase suicida, seja da “retratação” feita pelo influenciador digital.

A primeira é que ele, em algum momento, realmente tenha achado alguma graça em algo cujo desfecho, na melhor das hipóteses, é humilhar e machucar pessoas. Isso, por si só, já revela o baixíssimo nível moral do youtuber em questão. Sem falar da falta de responsabilidade em publicar algo do tipo, tendo em vista que, goste ele ou não, é um formador de opinião.

E a segunda reside no fato de ele ter usado sua própria mãe como “cobaia” na imbecilidade. Em troca de uns “likes” - e, talvez, de alguma monetização em seu canal no YouTube - ele colocou a integridade física e até mesmo (como ressaltou em seu próprio vídeo de desculpas) a vida dela. Aliás, a ideia que temos é que o quanto ele tem de consideração por sua mãe - que o gerou e cuidou, acredito eu - é, na mais generosa das hipóteses, um pouco maior em relação a seus seguidores.

Enfim, é a cultura do like ajudando a dar (mais) uma rasteira não só na moralidade, mas no cultivo e preservação de relacionamentos de longo prazo, tão necessários a uma sociedade saudável.

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