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O que é feminismo?

Atualizado: 13 de fev. de 2020

Por Vitória E. de A. Deluchi, estudante de Diretio e ex-feminista.

Por certo, tu já deves ter ouvido falar que feminismo é "a liberdade das mulheres", e que o "feminismo te deixa fazer o que quiseres", entre tantas outras definições. Antes de efetivamente pesquisar o feminismo, foi possível encontrar muitas respostas de diversas bocas, mas sem conseguir definir o movimento político que vem agitando a internet, influencers, adolescentes e a mídia.

Ao apreciar, desde sempre, a igualdade entre homens e mulheres – porém, sem nunca ter conseguido perceber diferenças -, abracei a dor dos relatos que chegavam e pensei: "se me apetece a igualdade de todas as mulheres perante os homens, então sou feminista". Dessa forma, precisava contar ao mundo meus anseios e propagar esse movimento que me parecia maravilhoso. Essa ânsia que estava dentro de mim, em mostrar às pessoas que existiam mulheres que defendiam que a igualdade entre homens e mulheres pode ser alcançada, era quase insuportável. Então, quando me aproximava das pessoas para explicar o que era o feminismo, me faltavam palavras. As frases que eu podia dizer – pois era o que tinha em mãos – eram, basicamente, que o feminismo queria a igualdade e que desejava que a mulher pudesse ser, "enfim", livre – na minha ingenuidade, não conseguia concatenar o contrário.

A partir dessa dificuldade em desenrolar o assunto, buscando argumentos a favor do que eu defendia, cheguei à conclusão de que estava na hora de embarcar para o próximo passo: estudar a teoria feminista. Eu tinha certeza que ali encontraria a essência do feminismo. Os caminhos da leitura me mostrariam em definitivo quais as razões pelas quais essas mulheres lutavam e – novamente, na minha cabeça – confirmariam o que defendia de forma veemente.

Meu primeiro livro feminista foi "O Segundo Sexo", de Simone de Beauvoir. Talvez a feminista mais conhecida nos dias de hoje, no tocante à teoria escrita. Nas primeiras páginas, é possível notar que a autora chega à conclusão de que o homem é principal e a mulher mera coadjuvante – por isso o título "o segundo sexo", tratando de forma clara a mulher como o sexo depois do primeiro, o homem. Novamente, imaginei-me e coloquei-me na realidade de todas as pessoas que não conhecia. Até que fui apresentada ao fato mais pertinente da obra: a culpa de todo sofrimento das mulheres era do homem. Um algoz! Meu sentimentalismo me impulsionava a acreditar que, de fato, o homem era o causador do sofrimento da mulher, por tudo que o movimento me apresentava. De outro modo, meu racional insistia em cultivar a semente da dúvida.

A cada página que devorava avidamente, conheci, então, minha primeira decepção – e recordo como se fosse hoje:

"A feminilidade é uma espécie de infância contínua que afasta a mulher do tipo ideal de raça. Essa infantilidade biológica traduz-se por uma fraqueza intelectual; o papel de ser puramente afetivo é o de esposa e dona de casa; ela não poderia entrar em concorrência com o homem (...)" [1]

Respirei. Reli. Pensando não ter entendido. Reli novamente. E cheguei à conclusão de que não concordava com aquilo. Ainda estava no primeiro livro. Como todas as outras coisas com que havia me deparado, era possível que discordasse de algo, mantendo a essência. Até que me deparei com o seguinte:

"Espera-se que, assim ludibriadas, seduzidas pela facilidade de sua condição, aceitem o papel de mãe e de dona de casa em que as querem confinar. (...) Como sua educação e sua situação parasitária as colocam sob a dependência do homem, não ousam sequer apresentar reivindicações. (...) A mulher burguesa faz questão de seus grilhões porque faz questão de seus privilégios de classe. (...) Todo socialismo, arrancando a mulher à família, favorece-lhe a libertação."

Nesse parágrafo, o estalo do meu lado racional foi tão forte que fez meu cérebro entrar em pane. Não era possível que a mulher que tem o desejo de ser mãe e dona de casa pudesse ser tratada dessa maneira, por alguém que era aclamada em um movimento que dizia lutar pela igualdade das mulheres. Segui a leitura.

O segundo livro de Simone de Beauvoir trouxe o laço vermelho do embrulho da decepção:

"Por ser mulher, a menina sabe que o mar e os pólos, mil aventuras e mil alegrias lhe são proibidas: nasceu do lado errado." [2]

Ser mulher – desde o nascer, ao contrário do que Simone diz – é sublime. Sempre encarei a feminilidade como uma vantagem, não como prejuízo. Em caso de naufrágio ou incêndio, vivi com a certeza de que me passariam à saída na frente – primeiro mulheres e crianças, como é possível ver em Titanic –, pelo zelo à vida do sexo feminino. Do mesmo modo em filas. Observava mulheres que foram grandes através da história, mesmo tendo encontrado felicidade no lar. Mulheres que eram consideradas deusas, seguraram a economia e administração de Esparta enquanto os homens batalhavam... Enfim, o fato de ser mãe não as prejudicaram, mas as tornaram quase que imortais. É preciso dar continuidade aos seres humanos. É, de fato, motivo de honra ser responsável pela vida de outrem. Desde a concepção, princípios básicos, moldar alguém. De maneira alguma, a mulher que se dedica ao lar – e que também ajuda a conquistar, mesmo que não seja de forma econômica, visto que um lar não depende somente de móveis, paredes, chão e teto - deve ser chamada de parasita.

Entre variados assuntos que permeiam o cerne feminista, o voto foi o segundo ponto que me chamou atenção e minha próxima decepção – a primeira decepção foi o que, efetivamente, era o feminismo. Através do livro de Simone de Beauvoir, conheci Emmeline Pankhurst.

Emmeline Christabel Pankhurst foi fundadora de um dos movimentos sufragistas britânicos e talvez seja a sufragista mais famosa do feminismo. Controversa do início ao fim, Emmeline lutava pelo voto da mulher e, de forma concomitante, iniciava a campanha chamada "a pluma branca". A partir da minha inquietude em saber tudo sobre o assunto, fui apresentada a uma das realidades chocantes do feminismo: a falta de igualdade no movimento que se diz igualitário. Depois de Simone de Beauvoir, que considerava mulheres que sentissem prazer em ficar em casa "seres parasitários", Emmeline deixou claro que o voto feminino deveria ser concedido somente às mulheres abastadas. Não suficiente, em sua campanha conhecida como "a pluma branca", entregava plumas brancas à meninos de 16 anos que não estivessem de uniforme – pois viviam sob a tensão da Primeira Guerra Mundial – debruçada no pretexto do serviço militar ser obrigatório à homens. Sylvia Pankhurst, filha de Emmeline, escreveu em seu diário "The Suffragette Movement":

"A Sra. Pankhurst viajou por todo o país, fazendo discursos pró-recrutamento. Suas apoiadoras entregaram a pluma branca a cada homem jovem que elas encontrassem vestindo roupas civis e se reuniam no Hyde Park com cartazes dizendo: Prendam todos eles."

Aproximadamente 600.000 britânicos mortos. Cerca de 20 mil, somente na batalha de Somme. A maioria deles sequer teve chance de votar. Mas, Emmeline achava que o homem lhe devia esse favor em troca do voto.

Segue trecho do Socialist Standart [3], em que retrata o que Emmeline e suas filhas, juntamente com todo o movimento sufragista de mulheres britânicas, pretendiam:

"Os homens votam presentemente sob a regra de 10 libras. O sufrágio é, portanto, sobre bases de propriedade com voto plural para os mais prósperos. Desse modo, de acordo com a proposta das mulheres sufragistas, apenas essas mulheres tendo necessariamente qualificativos de propriedade poderão votar. Isso exclui não apenas todas as mulheres trabalhadoras, desqualificadas por sua pobreza, mas também impede praticamente que toda mulher casada da classe trabalhadora que não tem a qualificação de propriedade à parte da dos maridos."

A partir dessa constatação, nota-se que o homem por si só, como gênero, não era abastado de voto. Só o podia exercer caso tivesse valor mínimo requerido ao tempo da votação. Ora, se o homem, por si só, como gênero, não podia votar, mas somente os que tivessem dinheiro suficiente para tal, por que diabos eu ouvia o tempo todo que o homem votava e tinha "privilégio" somente "por ser homem"?

Da chocante realidade de Emmeline Pankhurst, dei um salto para Margaret Sanger. Todas feministas amplamente divulgadas no movimento, sendo a última usada de exemplo por personalidades atuais, como Hillary Clinton, que disse admirar Sanger por proporcionar a possibilidade das mulheres "terem o controle sobre seus corpos" [4], em clara referência ao aborto.

Margaret Sanger foi responsável pelo controle de natalidade nos Estados Unidos, através de sua clínica de planejamento familiar que existe até hoje, a Planned Parenthood. Fundada em 1916, a clínica que possui, segundo fácil acesso ao Google, $1,790 bilhões USD em ativos (dados de 2015), foi duramente criticada pelo atual Presidente, Donald Trump [5].

Sanger considerava "o maior pecado do mundo trazer crianças para o mundo" [6], supondo que crianças que trazem doenças dos pais, ou que "não tem chance no mundo", podem tornar-se marginais e/ou prisioneiros e, dessa forma, deve-se abortar. Em carta à Dra. Clarence Gambler, em 1939, Sanger diz que não quer "que se saia a notícia de que queremos exterminar a população negra", ao se referir a contratação de médicos negros para que influenciassem de maneira mais ampla o aborto da população negra. Como cereja do bolo, Margaret Sanger aceitou o convite à reunião da Ku Klux Klan e, após o término, deixou claro em sua autobiografia que "acreditava ter atingido seu objetivo" [7], além de relatar com perceptível orgulho ter sido convidada para uma dúzia de grupos semelhantes.

Era o início da minha saga contra o feminismo.

  1. O Segundo Sexo I – Fatos e Mitos – Simone de Beauvoir

  2. O Segundo Sexo II – A Experiência Vivida - Simone de Beauvoir

  3. Suffragette         Humbug        –          The     Socialist           Party   of        Great  Britain            –          Link: https://www.worldsocialism.org/spgb/socialist-standard/1900s/1908/no-46-june-1908/suffragette-humbug

  4. Hillary Clinton admires Margareth Sangers Planned Parenthood – Canal Clairvoyant Crow – Link: https://www.youtube.com/watch?v=9Tjn2Ach2ME

  5. Trump Administration Blocks Funds for Planned Parenthood and Others Over Abortion Referrals – The New York Times – Link: https://www.nytimes.com/2019/02/22/health/trump-defunds-planned-parenthood.html

  6. The 1957 Mike Wallace Interview Margaret Sanger – Canal Walter B. Hoye II – Link: https://www.youtube.com/watch?v=q4pwJas4En0

  7. Margaret Sanger; An Autobiography – Margaret Sanger

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