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Muito ajuda quem não atrapalha, não é Paulo Guedes?

Por Marcos Lannes Jr., engenheiro de produção e servidor público.

Na última segunda-feira, escrevi um artigo por aqui comentando a infelicidade da declaração de Paulo Guedes, Ministro da Economia, ao falar que servidores públicos a “parasitas”. Ainda que ele estivesse se referindo a um estereótipo atribuído à figura destes, foi uma estupidez do ponto de vista político, ainda mais levando em conta que a agenda de reformas que precisam passar pelo Congresso está longe de terminar.

Ontem, outra fala do ministro causou polêmica e levantou bola para oportunistas cortarem: em um evento ocorrido em Brasília, Guedes resolveu exaltar as vantagens de um dólar mais caro. Um trecho em particular desse discurso acabou despertando os críticos ao governo (o grifo é meu):

“É hora “de colocar todo mundo para conhecer o Brasil”, segundo o ministro. “Todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para a Disneylândia, uma festa danada. Peraí, vai passear ali em Foz do Iguaçu, vai passear no Nordeste, está cheio de praia bonita. Vai conhecer Cachoeiro do Itapemirim, vai conhecer onde o Roberto Carlos nasceu” [...]”

Guedes tentou ainda remendar a fala, mas, dada a repercussão nas redes sociais, o estrago já está feito.

Evidente que, tal como a declaração sobre os servidores “parasitas”, o “posto Ipiranga” da economia do governo Bolsonaro criou ruídos desnecessários na discussão das reformas administrativa e tributária, deu munição à oposição, que pode usar isso como “argumento” para dizer que a pauta econômica do governo é antipopular, isso sem prejuízo da discussão do mérito econômico de advogar a combinação de um real desvalorizado frente ao dólar e juros baixos. Ironicamente, há um setor na esquerda que defenda exatamente a mesma combinação elogiada por Guedes, ainda que não admita os efeitos colaterais de curto prazo de tal medida.

Já considerei Paulo Guedes, por algum tempo, como um dos ministros “indemissíveis” do governo Bolsonaro, sobretudo pelo fato de ter buscado aparar as arestas nas relações entre o Planalto e o Congresso - fato esse evidente durante a tramitação da Reforma da Previdência. No entanto, dado o conjunto da obra neste início de ano, Guedes não mais é uma figura indispensável. E, neste momento, está mais atrapalhando do que ajudando.

E, antes que alguém venha me dizer que o governo desabaria com uma possível demissão de Guedes, deixo claro que isso não aconteceria. Até porque há bons nomes dentro da própria equipe econômica. Salim Mattar, secretário especial de Desestatização, poderia ser um bom substituto. Mansueto Almeida, secretário do Tesouro Nacional, também. Roberto Campos Neto, atual presidente do BC, idem. Isso só para lembrar dos primeiros nomes que me vêm à cabeça para substituir o atual Ministro da Economia. Com a vantagem de não demonstrarem incontinência verbal.

Espero que Paulo Guedes se contenha em suas declarações e se empenhe de fato pela agenda de reformas se quiser, pelo menos, ser tolerado pelos mercados. Mais uma e outra, e ele acabará não conseguindo nem isso.


Foto por Valter Campanato/Agência Brasil


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